Orgulho e humildade – II – Ego e Self

3 de setembro de 2021

Sintonizando com o Evangelho de Mateus, onde são convidados à ascenção aqueles que se fartaram das coisas materiais e buscam Deus a todo instante, procuremos entender os pobres em espírito como aqueles que estão no trabalho ininterrupto de buscar diminuir o Ego para expandir o Eu ou o Self.

São aqueles que não têm receios de penetrar nas sombras interiores, conhecer as personas, mantendo-se vigilante para as nascentes do coração, ao mesmo tempo em que observam com qual intenção as atitudes estão revestidas. Conhece seus pontos fracos e fortalece seus pontes fortes.

Sobre a questão do Ego e do Self encontramos um texto de Ken Wilber, conhecido autor de vários livros sobre a Transpessoal, que tem o título Ausência de Ego, traduzido por Ari Raynsford.

Explica esse autor:

Ausência do ego não significa a ausência de um eu (self) funcional (o que seria próprio de um psicótico e não de um sábio); significa que não estamos mais exclusivamente identificados com aquele eu.

É o viver no mundo sem ser do mundo, como orientava Jesus. É o sentir-se um transeunte, como afirmava o Mestre no Evangelho de Tomé. Possuir o ego conectado à fonte divina, sentindo a Presença em todas as ações, como orienta o Colégio Internacional dos Terapeutas. Agir no mundo como for necessário e solicitado, participando inclusive de grandes mudanças como o fez Gandhi, Santa Teresa D´Ávila, Platão, dentre outros. Ver o sagrado em tudo e colocar-se a serviço do Bem, sentindo-se um servidor de Deus.

“Transcender o ego”, significa, pois, em verdade, transcender mas incluir o ego num envolvimento mais profundo e mais elevado, primeiro na alma ou psiquismo mais profundo, depois na Testemunha ou Eu superior e, então, após a absorção nos níveis precedentes, envolver-se, incluir-se e abraçar-se na radiância do Um Sabor (no original, One Taste – estado de visão não-dual ou consciência da unidade). E isto não significa, portanto, “livrar-se” do pequeno ego, mas, ao contrário, habitar nele plenamente, vivê-lo com entusiasmo, usá-lo como veículo necessário, através do qual as grandes verdades podem ser transmitidas. Alma e espírito incluem o corpo, as emoções e a mente; não os eliminam. (WILBER)

Para o buscador do Sagrado as dificuldades maiores são pensar que diminuir o ego é anular-se perante a vida e imaginar que pode todo o tempo manter a aparência de quem já superou os desafios da vida comuns a todos os mortais.

Ken Wilber afirma que muitos se consideram num patamar mais elevado e colocam uma aparência de santidade, mas têm extrema dificuldade em lidar com as questões materiais que incomodam a tanta gente: dinheiro, comida, sexo, relacionamentos e desejos.

Com relação ao dinheiro Joanna traz, no livro Amor, Imbatível Amor o seguinte ensinamento:

Um velho koan Zen-Budista narra que um homem muito avarento recebeu, oportunamente, a visita de um mestre.

O sábio, depois de saudá-lo, perguntou-lhe: – Se eu fechar a minha mão para sempre, não a abrindo nun­ca, como te parecerá?

O avaro respondeu-lhe sem titubear: – Deforma­da.

Muito bem, prosseguiu o interlocutor: – E se eu a abrir para sempre, como a verás?

– Igualmente deformada – redargüiu, o anfitrião.

O homem nobre concluiu, informando-o: – Se en­tenderes isso, serás um rico feliz.

Depois que se foi, o anfitrião começou a meditar e, a partir daí, passou a repartir com os necessitados, aqui­lo que lhe parecia excedente, tornando-se generoso.

Todos os opostos, afirma o antigo koan, bem e mal, ter e não ter, ganhar e perder, eu e os outros, dividem a mente. Quando são aceitos, afastam as pessoas da mente original, sucumbindo ao dualismo.

A sabedoria, concluiu a narração sintética, está no meio, no Zen, que é o caminho.

A comida tem sido motivo de muitas pesquisas com relação ao seu uso e a qualidade de vida. Muitos caem no exagero: comem demais e o que não deve, ou comem de menos e censuram os que têm hábitos alimentares diferentes dos seus. Cada organismo tem uma necessidade própria e o bom senso, aliado ao respeito à natureza, nos dará a melhor solução.

Quanto ao sexo, muitos se perturbam e caem em erros antigos. A energia sexual é uma energia criativa que pode ser direcionada para a procriação, assim como para as artes, para realizações culturais, científicas, atividades sociais e na autorealização espiritual.

Os relacionamentos fazem parte da vida, o ser humano é gregário e é no encontro com o outro que suas conquistas são avaliadas, seus valores são desenvolvidos, a fraternidade é testada. Na convivência em sociedade vamos descobrindo os seres que habitam o nosso mundo interior e vamos educando-os e progredindo.

Nossos desejos falam da nossa posição espiritual. Na literatura espírita vemos exemplos de trabalhadores da seara cristã que vez por outra dão guarida a desejos que os distanciam das tarefas mais espiritualizadas e seus guias espirituais quando vão buscá-los para trabalhos enquanto o corpo está adormecido, encontra-os enredados com obscuras companhias que seus desejos atraíram…

Ilustrando isso, há um provérbio dos índios norte-americanos que conta sobre um velho índio e seu aprendiz que conversavam. O mestre dizia sobre seus conflitos internos: “Dentro de mim existem dois cães enormes e igualmente fortes e corajosos. Um é mau e sanguinário, enquanto o outro é doce e protetor. Eles estão em luta constante para me dominar.” O aprendiz indagou: “E qual deles ganhará a luta?” “Aquele que eu alimentar.”- repondeu o sábio índio.

Ramakhrisna convidava a todos a desejar ardentemente viver em Cristo, pois assim a bem-aventurança habitaria o nosso interior.

Ser a luz do mundo… empobrecer-se do Si mesmo, esvaziar o recipiente repleto de preocupações para ocupar um lugar de destaque no mundo, para deixar que o divino ocupe todos os espaços do nosso mundo íntimo…

Assim, os nossos olhos se tornarão bons – e, se teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso e seremos conscientemente uma luz clareando o mundo de aflições e ignorância, podendo dizer como o apóstolo Paulo: Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim!

Referências:

Wilber, Ken. Ausência de Ego. Tradução de Ari Raynsford. Disponível nos sites:

http://sisalarteterapia.blogspot.com/2010/02/ausencia-do-ego-um-desafio-facil.html?showComment=1303491989712#c4388773614546365901

http://www.jornalternativonline.com.br/index1.asp?qm=p&ed=1&c=102&t=192 e outros. Acesso em abril/2011

Ângelis, Joanna de / Divaldo Franco – Amor, Imbatível Amor. Salvador: LEAL, 1998.

Ângelis, Joanna de / Divaldo Franco – O Despertar do Espírito. Salvador: LEAL, 2000

http://mel-melica.blogspot.com/2007/03/2-cachorros.html. Acesso em abril/2011

Mateus, 5:13-16; 6:22-23

Paulo aos Gálatas 2:20

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