Pleno Amor

Pleno Amor

3 de setembro de 2021

No quintal da casa que eu morava na Mansão do Caminho, havia um abacateiro onde os micos gostavam de passear. Certo dia, um filhote caiu e buscou se esconder na cozinha, perto da geladeira. No mesmo instante, a mãe estava na porta com os olhos assustados, mostrando os dentes e, numa postura ameaçadora, tentava resgatá-lo. Acompanhava-a mais uns quatro ou cinco micos como se fosse um pequeno batalhão em missão de resgate em que todos se comunicavam e enviavam sinais através de seus guinchos característicos. Houve um pequeno alvoroço em casa, com as crianças vibrando com o acontecimento e ao mesmo tempo tentando ajudar ao filhote a sair de onde ele se escondera, mas, diante da mãe ameaçadora, não podíamos chegar perto. Afastamo-nos um pouco, ela colocou-o nas costas e o bando saiu correndo de volta ao abacateiro para dali seguirem para outras árvores…

Vimos ali a manifestação do amor, de forma rudimentar, assim como da solidariedade, do instinto de defesa, da proteção da prole.

No reino animal o olfato é a mais antiga raiz de nossa vida emocional e o sistema límbico, ao formar-se, fez com que emoções como a fúria, a paixão, o pavor e os anseios pudessem se manifestar. Podemos ver essas emoções primitivas num cachorro numa noite de São João no nordeste brasileiro, quando o som do espoucar dos fogos de artifício deixam-no enlouquecido de pavor.

Há mais de cem milhões de anos a formação do neocórtex, que é considerado pelos cientistas a sede do pensamento, possibilitou a complexidade emocional, a consciência sobre o próprio sentir.

Joanna de Ângelis, no livro Amor, Imbatível Amor, último capítulo, aborda com a sabedoria que lhe é peculiar, a evolução do amor, desde os homens das cavernas, sentimento que toca a todos os seres vivos, herdeiros que somos do Amor Maior que é Deus.

Citando os estudos da Dra. Robin Kasarjian com relação a estrutura psicológica do Self , onde as emoções primitivas são consideradas como sendo nossa subpersonalidade e os sentimentos mais elevados nossa superpersonalidade, Joanna sugere:

“… em se traçando uma horizontal, e partindo-se do fulcro em torno de um semicírculo para baixo, teríamos as subpersonalidades, e, naquele que está acima da linha reta, defrontamos as superpersonalidades, mesmo que, nas pessoas violentas e mais instintivas, em forma embrionária.”

Os estudiosos do cérebro vêm pesquisando as áreas que mais utilizamos, e com isto, ajudando as pessoas a se conhecerem melhor ao mesmo tempo que estimulam o uso desse órgão de forma integral, através de exercícios e práticas de comportamento adequados, o que tem muita relação com as questões analisadas por Joanna de Ângelis.

Unindo esses estudos, o diagrama sugerido por Joanna ficaria, em resumo, assim:

Todas as manifestações da subpersonalidade vêm nos acompanhando desde a aurora da nossa caminhada evolutiva e fazem parte do nosso ser. Experimentamos no reino animal para nos defendermos e sobrevivermos, fomos multiplicando as nuances dessas emoções e formas de pensar enquanto homens primitivos e, no decorrer dos milênios, continuamos aprendendo a conviver conosco mesmo e com os semelhantes, num processo de autodescobrimento contínuo que vai nos levando a sentir a luminosidade da razão banhada pelo amor incondicional.

A luz divina está em nós desde o princípio, pois fomos criados “à imagem e semelhança de Deus”. Sentir ainda em nosso viver a larga sombra que envolve o nosso íntimo não é motivo para desencanto nem depressão. Estamos no processo da evolução, como tantos outros. Na medida que formos tomando consciência dos pontos obscuros que precisamos burilar, já estaremos dando um passo à frente e exercitando o auto-perdão. Perdoando-nos, desenvolveremos o auto-amor, a auto-estima, o que nos facultará o amor ao próximo e a Deus, seguindo o mandamento de Jesus: “Amarás a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Como ajudar ao próximo se não nos amamos? Como perdoar a alguém se não nos perdoamos?

Ser maduro psicologicamente, de acordo com Joanna de Ângelis, é exatamente amar-se e perdoar-se “quando se surpreende em erro, pois que percebe não ser especial ou alguém irretorquível”.

Vinícius de Morais, numa de suas músicas, fala de “gente com os olhos no chão sempre pedindo perdão, gente que a gente não vê por que é quase nada…” Já Caetano Veloso canta que “gente quer ser gente, quer ser feliz”, pois “gente nasceu para brilhar”.

Foi o que Jesus ensinou no memorável Sermão da Montanha: “Vós sois a luz do mundo… Vós sois o sal da terra…” Pastorino explica: “não se pede que saibamos, falemos ou façamos, mas que sejamos a luz do mundo”…

Simão Pedro, que conviveu com o Mestre tão de perto, demorou um pouco para se converter em luz, atravessando o limiar da subpersonalidade para a superpersonalidade. Depois de ouvir Jesus falar da necessidade dele mesmo se converter para, depois, confirmar os irmãos, ouviu-o também, após o martírio da cruz, indagar-lhe por três vezes seguidas se O amava. Após escutar cada resposta encabulada de Simão Pedro sobre o quanto O amava, o Cristo acrescentou: “Apascenta as minhas ovelhas.” Parecia querer dizer que só apascenta quem ama e para cuidar das pessoas será fundamental desenvolver esse amor de plenitude, um amor incondicional, conquistado pela alma que se burila e se conhece, se ama e se perdoa, compreendendo-se como um ser inteiro, com sombras e luzes, caminhando para a identificação total com o divino em nós.

Celeste Carneiro

Bibliografia:
1 – Amor, imbatível amor – Joanna de Ângelis
2 – Inteligência emocional – Daniel Goleman, PhD
3 – Longevidade do cérebro – Dharma Singh Khalsa, M.D.
6 – O Novo Testamento
7 – Sabedoria do Evangelho – Carlos Torres Pastorino

Artezen
Centro Odonto Médico Henri Dunant
Rua Agnelo Brito, 187, sala 107 – Federação
CEP 40210-245 – Salvador – Bahia – Brasil
Siga-nos nas redes sociais
Artezen - ©2021 Todos os direitos reservados
lucas.rego.designer